Na livraria LeYa em Viseu este livro saltou à vista de nós dinamarqueses. Comprei o livro, e agora gostaria de partilhar a minha leitura com vocês.
SINOPSE
O narrador, Álvaro, conta a vida dum colega de juventude, o Castro. O Álvaro é de classe baixa, o Castro da media burguesia do Porto. Conhecem-se na faculdade de economia, em 1968. São adversários políticos, o Álvaro é anarquista, o Castro é conforme com o sistema, católico praticante, anticomunista. Aspira a ser ministro das Finanças. Os dois fogem do serviço militar, para França.
No primeiro capitulo, Álvaro conta a situação do Portugal de 1970. Fechado às noticias do mundo e com a sangria dos jovens pelas guerras do Ultramar.
Nas ferias do verão de 1970 Álvaro vai com o Castro passar uma bela semana na quinta da sua mãe na Beira Alta. Façam campismo com Laura, a namorada de Castro. Laura engravida e como participa numa manifestação fica presa politica.
A finais de Fevereiro o Castro fugi, deixando a noiva presa com um bebé no ventre. O Álvaro ajuda o Castro para fugir. Perto da Fronteira com Galícia um agente da PIDE toma notas dele e isso faz que o Álvaro não possa renovar o adiamento da incorporação ao serviço militar. Então o Alvora tem de juntar-se ao Castro, e ele também vai para Paris. Não obstante, o Castro decide ir para Dinamarca onde acredita que seria mais fácil viver que em Paris.
Na estação do Norte em Paris o Castro olha uma rapariga com quem comparte a viagem porque o ex-marido, Francisco, não vem como acordado. Sofia é portuguesa, está a divorciar-se, vai a Roskilde onde vive como refugiada. Explica que o Francisco decidiu emigrar para Dinamarca para preparar a revolução desde fora. Deixou a Sofia grávida, e antes de fugir, casou com ela pelo civil, sem informar as famílias burguesas. Como a mãe de Sofia ameaça com regime interno, ela vai a Dinamarca para procurar o Francisco; mas ele exige-lhe um aborto. Ele agride-a, e a Sofia obtém a protecção do Sistema dinamarquês. As autoridades ameaçam a Francisco com deporta-lo e pressionam-no a divorciar.
A Sofia obtém asilo, cursos de dinamarquês e trabalho, creche para a filha e a simpatia da comunidade portuguesa de Roskilde. Um dia vai a Lisboa onde deixa a menina com os avós.
No comboio, o Castro conta para a Sofia que em Paris ele morou com Baptisto, um amigo dum outro amigo, Bastos. O Castro consegue trabalho numa cozinha, e arranja um quarto de criada para viver sozinho. Encontra uma rapariga, Rosalie, com a que estabelece uma profunda amizade, embora teme que ela seja espia da PIDE. Mas um dia ela desaparece, e dois policiais franceses detêm o Castro, que aprende que a Rosalie era Maria, uma terrorista basca. O Castro consegue provar que não sabia nada sobre a verdadeira identidade dela, mas a policia ameaça com entrega-lo à PIDE ou ao exército Português.
Por isso, Castro decide ir para o Norte. No comboio, a Sofia oferece-lhe a sua casa de Roskilde. O Castro conta-lhe sobre Laura e a sua fuga para França. Ela acompanha-o ao serviço de estrangeiros para obter o status de ”refugiado” como ela tem. O Castro vai a um curso de dinamarquês e cozinha para ele e Sofia.
Depois de uma visita a Tivoli passam uma noite apaixonada num hotel. Depois dormem juntos na casa de Sofia para desagrado dos amigos políticos de Sofia. O Castro não quer problemas e durante a semana fica em casa dum amigo que mora em Helsingør, mas passa os fins-de-semana com a Sofia.
O ex-marido aparece e agride ao Castro. A Sofia chega com a policia, e o Castro que teme pela sua vida volta a Paris embora a Sofia lhe peça ficar com ela. Necessita-o porque o Francisco é muito agressivo o os amigos portugueses estão com ele.
No comboio para Paris o Castro percebe que é um inconstante que não quer enfrentar escolhas difíceis. Em Paris, o Castro arranja trabalho e um dia a Sofia chama a sua porta. Amam-se apaixonadamente, e ela procura trabalho.
Mas a Laura sai da prisão e vem a Paris. As duas mulheres encontram-se num parque para falar (o Castro prefere não intervir). A Sofia volta para Dinamarca. Agora Laura, a filha e o Castro podem viver em Paris onde a Laura procura trabalho e habitação como porteira.
O Castro regressa a Portugal em 1974 e poucos anos depois fica ministro de finanças com o novo regime.
O Álvaro casa com a Sofia, e ele não sabe se ainda é amigo do Castro.
O ESTILO DO LIVRO
O autor, Carlos Pereira da Silva, é actuário, especialista em finanças, seguros e pensões. Publicou livros científicos e também um outro livro de ficção sobre a emigração: “Lisboa, Paris e Volta ao País da Saudade”.
Em “Um Café em Copenhaga” trata os temas da emigração e do exílio num momento decisivo para Portugal. Compara a maneira de tratar os emigrantes em França versus em Dinamarca.
O protagonista, Castro, exemplifica o filho de classe média alta relacionada com o regime; o Castro elege estudos que pudessem assegura-lhe uma boa carreira politica. O cambio radical de 1974 não impede que fique ministro. Em amores é um egoísta sem coragem.
Há dois outros personagens masculinos: Álvaro e Francisco. Francisco é simplesmente um chauvinista masculino brutal. Só Álvaro, o narrador, tem compreensão pelas mulheres e sabe apreciar a Sofia.
As três mulheres estão pintadas de cores idílicas, são ninfas, fadas, sireias, … É verdade que a Rosalie pertence a uma banda de terroristas, mas também é uma mulher simpática e honesta segundo o seu próprio código de honor.
Não pode dizer-se que o autor tenha grandes dons estilísticos. Usa uma linguagem quase pedante, com descrições exactas, mas falta de sensibilidade emocional. São bastante malogradas as passagens de lirismo, erotismo e psicologia.
Não obstante, é interessante ler o livro como testemunho duma geração que viveu o cambio da sociedade portuguesa nos anos 1970, e descreve a vida dos emigrantes portugueses com muitos detalhes interessantes.